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Coruche comemora Centenário de Saramago com iniciativas na Feira do Livro e na Galeria do Mercado

O Centenário de José Saramago (1922-2022) suscita um conjunto de iniciativas relevantes, inspiradas na vida e na obra do escritor, promovidas pela Câmara Municipal de Coruche. Os eventos desdobram-se essencialmente pelo programa da 38.ª Feira do Livro de Coruche, que tem lugar no Pavilhão Multiusos de Coruche de 28 de outubro a 6 de novembro. A Feira abre, aliás, com um espetáculo de arte performativa de estátuas vivas da Quideia Animações, alusivo à obra do escritor, seguindo-se um conjunto de momentos a não perder como a leitura encenada de “Memorial do Convento”, o espetáculo “A Maior Flor do Mundo”, a sessão de poesia “José Saramago 100 anos”, que conta com a presença online de Violante Saramago Matos, filha de José Saramago, e as exposições “José Saramago na Caricatura Internacional” (Museu Nacional de Imprensa) e “Voltar aos passos que foram dados” (Fundação José Saramago). A entrada é sempre livre, como o pensamento.

No final de “Viagem a Portugal”, José Saramago diz-nos: «É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já.» E volta mesmo, desta feita à Galeria do Mercado Municipal e ao Pavilhão Multiusos, logo pela abertura da 38.ª Feira do Livro de Coruche, às 18 horas de 28 de outubro, com o espetáculo de arte performativa de estátuas vivas da Quideia Animações, alusivo à obra de Saramago, e com a exposição itinerante da Fundação José Saramago “Voltar aos passos que foram dados” - mostra que viaja pela biografia literária do escritor português, premiado com o Nobel da Literatura, cuja narrativa nos leva a encontrar, em formato expositivo, as obras e o seu legado cultural e cívico.

Com design de André Letria e seleção e composição de textos de Carlos Reis e Fernanda Costa, “Voltar aos passos que foram dados” soma 15 painéis concebidos em função do trajeto pessoal e literário de Saramago, orientados para a sua leitura e releitura com um propósito pedagógico de divulgação e orientação do leitor. A exposição ocasiona um contacto privilegiado de revisitação ou de iniciação à literatura e ao pensamento saramaguianos, tratando aspetos biográficos das obras produzidas e articulando-os com as várias ideias-chave do autor. Com a intenção declarada de seduzir os leitores, “Voltar aos passos que foram dados” manifesta um campo de cor inscrito em cada porção cromática para evidenciar citações manuscritas, notas e as próprias obras de José Saramago num breve percurso expositivo que convida a parar para pensar e dar oportunidade a uma leitura atenta e apaixonada, mas sobretudo transformadora.

Já na quinta-feira, dia 3 de novembro, acontece às 11 horas a dinamização de uma sessão de leitura encenada sobre a obra “Memorial do Convento”. João Pedro Mamede, ator dos Artistas Unidos desde 2013 e fundador da companhia "Os Possessos", faz eco das palavras escritas de José Saramago em "Memorial do Convento" numa leitura que nos leva pela mão a um passado histórico no qual encontramos personagens como o Padre Bartolomeu, que sonha com máquinas voadoras, ou Blimunda e Baltazar, que se apaixonam enquanto a Inquisição faz autos de fé e o povo, empobrecido, vive faminto.

Igualmente a não perder é a exposição “José Saramago na Caricatura Internacional”, promovida pelo Museu Nacional da Imprensa e inaugurada às 10 horas de sábado, dia 5 de novembro, na Galeria do Mercado Municipal, onde estará patente até 30 de novembro, para lá da programação da Feira do Livro. A exposição de cartoon evoca o único Nobel da Literatura português com obras que integraram o 15.º Porto Cartoon, realizado em 2013 sob o tema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, no ano em que Saramago faria 90 anos.

Também no dia 5 de novembro mas às 17 horas acontece na Feira do Livro mais um momento alto com “A Maior Flor do Mundo”, um espetáculo musical, doce e poético, dedicado a miúdos e graúdos, que combina a palavra, a música e a dança para apresentar teatralmente um dos raros livros que José Saramago escreveu para a infância. Com encenação de Vasco Letria e texto de José Saramago, “A Maior Flor do Mundo” é um espetáculo da companhia de teatro Foco Lunar integrado nas comemorações do centenário do escritor.

A 38.ª Feira do Livro de Coruche encerra a 6 de novembro, domingo, mas não sem antes ter lugar no Multiusos, pelas 15 horas, a sessão de poesia “José Saramago - 100 anos” com participação online de Violante Saramago Matos, filha de José Saramago. A sessão de poesia, presencial e online, é dinamizada pelo grupo de teatro Um Poema na Vila.

Coruche celebra assim a vida e a obra de Saramago, escritor maior português, contemplando diversos géneros literários e cultivando-os. Saramago legou-nos, entre outras obras, “Memorial do Convento”, “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, “Ensaio sobre a Cegueira” ou “A Viagem do Elefante”. E publicou também contos, peças de teatro, diário, poesia, crónicas, memórias e ensaios.

Neste centenário voltamos aos passos que foram dados para redescobrir não apenas os grandes temas, mas também as personagens marcantes de, entre outras, Blimunda e a Mulher do Médico, Ricardo Reis e Lídia, Maria de Magdala e o Senhor José de Todos os Nomes, vários cães e um elefante. Com elas, nos ensaios e em intervenções públicas, Saramago fala-nos da relação dos homens com Deus, do amor e da crueldade humana, da rebeldia contra os poderosos ou das injustiças da vida social. «Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara», diz-nos o mestre em epígrafe de “Ensaio Sobre a Cegueira”.

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