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Exposição “Guerra Colonial - Tarrafal 50 anos depois” pelas comemorações do 25 de Abril

No âmbito das comemorações dos 48 anos do 25 de Abril, a Galeria do Mercado Municipal de Coruche recebe, de 9 de abril a 8 de maio de 2022, a exposição “Guerra Colonial - Tarrafal 50 anos depois”, uma retrospetiva do início da Guerra Colonial e da reabertura do Campo do Tarrafal, em Cabo Verde. Produzida pela Sociedade Portuguesa de Autores (SPA), a exposição recorda os anos da guerra colonial, incluindo mapas, fotografias e livros que ajudam a traçar o caminho do conflito e a identificar protagonistas. O jornalista e historiador António Valdemar e o cenógrafo e artista plástico Fernando Filipe resumem em 30 painéis e obras literárias os vários momentos que pontificaram a guerra colonial e as marcas inapagáveis deixadas em gerações de portugueses e africanos, mas também na vida cultural e artística de Portugal. De entrada livre, a exposição estará aberta todos os dias, das 10 horas às 12h30 e das 14 horas às 18h30.

A exposição municipal comemorativa dos 48 anos da Revolução de 25 de Abril de 1974 abre com a identificação geográfica do chamado “Império Português”, anterior à guerra colonial, e com dois painéis sobre o Campo do Tarrafal: um sobre a sua criação, em abril de 1936, enquanto colónia penal que encerrou em 1946, e outro sobre a sua reabertura, em 1961, como campo de reclusão dos independentistas africanos. O “Campo da Morte Lenta”, como ficou conhecido o Tarrafal, foi criado na sequência da guerra civil espanhola e como forma de prevenção para evitar o seu alastramento a Portugal.

Inicialmente determinado enquanto colónia penal destinada a cidadãos «desafetos do regime» que, por isso, deveriam ser isolados em campos de concentração, o Campo do Tarrafal abriu portas em 29 de outubro de 1936 para encerrar os sindicalistas do 18 de Janeiro de 1934 - marinheiros da Organização Revolucionária da Armada (ORA) que tentaram a sublevação em 8 de setembro de 1936 -, assim como anarcossindicalistas da CGT e republicanos que conspiravam contra a ditadura. Mais tarde, em 1946, vivia-se ainda a euforia do fim da Segunda Guerra Mundial e a derrota do nazismo e do fascismo quando Salazar foi pressionado pelos aliados a realizar eleições, que anunciou «tão livres com as da livre Inglaterra», e a encerrar o campo de concentração do Tarrafal, último a permanecer aberto. As eleições terminaram em farsa e o Tarrafal só encerrou em janeiro de 1954.

Mas, em 1961, com a eclosão da luta armada em Luanda, por determinação de Adriano Moreira, então ministro do Ultramar, a prisão foi reaberta, passando a designar-se de “Campo de Trabalho do Chão Bom”, destinando-se a receber os que em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique lideravam os movimentos de libertação anticoloniais e independentistas. A exposição demonstra também como a Guerra Colonial, iniciada em 1961, marcou a História contemporânea portuguesa, deixando um rasto de luto, sofrimento e ausência que se prolongou até muito depois de 1974. «Foram 13 anos de conflito, mais de 10 mil vidas perdidas, dezenas de milhares de estropiados e um imenso cortejo de dor e perda que só agora Portugal começa a ser capaz de encarar de forma serena e distanciada», reflete José Jorge Letria, presidente da SPA.

A exposição retrata ainda o fenómeno doloroso do exílio. Centenas de milhares de jovens radicaram-se noutros países para não participarem numa guerra com a qual não concordavam. Estes 13 anos da nossa vida coletiva marcaram assim o imaginário de centenas de criadores que deram testemunho dessa experiência traumática em livros, filmes, canções, peças de teatro e outras formas de expressão cultural e artística que, antes do 25 de Abril, a censura não poupou. As várias formas de protesto contra a guerra colonial estão expressas na exposição, que evoca figuras e obras que deram voz e projeção nacional e internacional à guerra colonial, em particular a do músico Zeca Afonso, que «teve um papel de charneira em todo este processo, não só como cantor, mas como referência ideológica e ética», recorda José Jorge Letria.

O Tarrafal fechou definitivamente no dia 1 de Maio de 1974 e os detidos foram enviados para os seus países, onde tiveram papel destacado na criação dos respetivos Estados. A esse propósito, António Valdemar assinala em três dos painéis a influência de Adriano Moreira na manutenção do regime colonial, recordando o seu papel como subsecretário de Estado da Administração Ultramarina entre 1960 e 1961, passando nesse ano a ministro do Ultramar, onde permaneceu em funções até 1963. A exposição “Guerra Colonial - Tarrafal 50 anos depois” deixa um testemunho de memória sobre uma página ainda muito viva e sempre presente da vida coletiva portuguesa antes da chegada da Liberdade e da Democracia, homenageando simultaneamente os criadores portugueses que viveram e sofreram na carne a guerra e o exílio.

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