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Exposição de pintura “Ideias Claras”, de José Gomes, na Galeria do Mercado Municipal

De 3 a 25 de julho, a Galeria do Mercado Municipal recebe a exposição individual “Ideias Claras”, de José Gomes, pintor autodidata natural de Escusa, Concelho de Coruche, que mescla geografias inspiracionais povoadas entre a ruralidade da terra natal e a urbe lisboeta, onde também viveu e trabalhou. De entrada gratuita, a exposição mostra a obra heterogénea de um esteta que se iniciou na marcenaria e na carpintaria para mais tarde deambular artisticamente dos ensaios a carvão para o acrílico e o óleo. “Ideias Claras” colige criações matizadas, por vezes declaradamente inspiradas em obras de pintores incontornáveis, percorrendo temas e estilos surpreendentemente diversos, de Coruche a Alfama e ao mar; do sobreiro e da cortiça ao touro, ao cavalo ruço e ao fado; da natureza morta aos ensaios estéticos sobre o corpo e a nudez.

Foi em 2003, ano seminal da obra exposta, que o autor assinou a primeira das 29 telas coligidas – o único quadro pintado a carvão, intitulado “Ninfas”, alusivo às Tágides de Camões, numa interpretação particular, elevada à temática simbólica da mulher livre e emancipada. Após diversos ensaios estéticos conducentes do carvão ao óleo sobre tela, o autor, que até então nunca havia pintado, usou-se da arte como terapêutica para transcender latências, dissabores e dores existenciais. Pintando como quem presta continuados tributos, José Gomes introduz subtextos íntimos em episódios picturais que se situam entre estórias e projeções do imaginário pessoal e coletivo.

As interpretações e os estros criativos de José Gomes sustentam-se em parte na recriação de arquétipos de pintores como Peter Paul Rubens, Pablo Picasso, Salvador Dalí ou José Malhoa, como se torna óbvio, por exemplo, na obra “O Fado”. Mas a heterogeneidade de temas, amiúde emoldurada em cortiça, é também reveladora dos ensejos de um homem do Couço – terra de resistência antifascista, de luta pela Liberdade - que, vivendo e sentindo o antes e o depois do 25 de Abril de 1974, intuiu duas realidades, num movimento pendular entre o meio rural e o meio citadino, sem pejo de desconstruir estereótipos e clichés.

A exposição “Ideias Claras” perspira a ideia kantiana de solucionamento de um dilema epistemológico do autor, pelo qual transitou da sensibilidade pura, intuída, para o entendimento dos objetos conceptualizados. Da materialidade à imaterialidade, o pintor estabelece a sensibilidade como modo recetivo que atribui sentido ao objeto, uma vez estabelecido nas propriedades subjetivas de espaço e tempo. “Ideias Claras” traduz um percurso que ruma à clarividência e à lucidez do ato criativo pela modelação mimética da inspiração. José Gomes não apenas reproduz pela pintura, de modo mais ou menos realista, a tangibilidade que seria a dos objetos concretos da existência quotidiana, mas produz a ideia como fabricação artesanal, completada, a espaços, pelo emolduramento em cortiça ou pela recuperação de objetos, como seja a transformação de velhos garrafões de vidro em candeeiros pintados – peças que também estarão em exposição. 

Exposição aberta de 3 de julho a 25 de julho

Horário: 10h/12h30 – 14h/18h30

  

José Gomes, breve biografia

Nascido a 17 de janeiro de 1948 no Monte da Herdade da Escusa, Freguesia de Couço, Coruche, o pintor José Gomes mescla geografias inspiracionais povoadas entre a ruralidade da terra natal e a urbe lisboeta, para onde foi trabalhar ainda criança, acompanhando o pai em labores de carpintaria e marcenaria.

A ligação à artesania precede a pintura, tendo exercido no autor um efeito de contágio. Pintor autodidata, José Gomes apaixonou-se originalmente pelo ato de pintar a carvão, pelo que realizou diversos ensaios empíricos e retratos a carvão, mas foi através do contacto com João André Pinto, animador do Centro Cultural de Cabeção, Município de Mora, que se norteou posteriormente para a pintura a óleo.

Do carvão ao óleo, José Gomes revela o percurso de um homem que ama a estética sem no entanto defini-la por palavras, mas por sentimentos e emoções traduzíveis no ato criativo pictórico. 2003 foi o ano seminal da obra exposta, coincidente com o ano da reforma da Companhia Carris de Ferro de Lisboa, onde José Gomes trabalhou de 1979 a 2003.

Residente em Escusa, José Gomes tem desenvolvido a sua atividade no atelier de pintura da Casa da Cultura da Câmara Municipal de Mora. Além de expor em variados locais do País e em Espanha, o pintor tem mantido colaborações com, entre outros: Bienal de Coruche; ExpoMora; Semana de Arte, Cultura e Desportos de Couço; Câmara Municipal da Amadora; FICOR; exposição Trajetos – Sociedade, Cultura e Cidadania e exposição anual do Grupo Um Poema na Vila.

 

 

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